Programação


"FÉ INABALÁVEL SÓ O É A QUE PODE ENCARAR FRENTE A FRENTE A RAZÃO, EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE."
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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nova Abolição

Poema de José do Patrocínio em Parnaso de Além Túmulo.

JOSÉ do Patrocínio nasceu em Campos, Estado do Rio de Janeiro, aos 9 de outubro de 1853. E desencarnou a 29 de janeiro de 1905. Farma­cêutico, jornalista, romancista, poeta, impetuoso político e grande orador, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Foi uma das figuras máximas na campanha abolicionista, e todo o seu pensamento convergia para o bem da Humanidade.



Prossegue a escravidão implacável e crua...
Não mais senzala hostil, escura e desumana.
A incompreensão do amor, no entanto, continua
Em domínio cruel de que a treva se ufana.

Mas a luz do Senhor não teme, nem recua,
Na ansiedade e na dor, sublime, se engalana,
E, das graças do templo aos sarcasmos da rua,
Erige a liberdade augusta e soberana...

Irmãos do meu Brasil, encantado e divino,
Do Amazonas ao Prata ergue-se a Deus um hino
Que exalça no Evangelho a grandeza de um povo!

Fustiguemos o mal, combatendo a descrença,
Descortinando, além da noite que se adensa,
A alvorada feliz de um mundo livre e novo.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Rogativa

Poema de Pedro de Alcântara em Parnaso de Além Túmulo.



Magnânimo Senhor que os orbes cria,
Povoando o Universo ilimitado,
Que dá pão ao faminto e ao desgraçado,
E ao sofredor os raios da alegria,

Se, de novo, no mundo, desterrado,
Necessitar viver inda algum dia,
Que regresse ditoso ao solo amado
Da generosa pátria que eu queria;

Se é mister retornar a um novo exílio,
Seja o Brasil, lá onde eu desejara
Ter vertido o meu pranto derradeiro...

Que, novamente viva sob o brilho,
Da mesma luz gloriosa que eu amara,
Na alcandorada terra do Cruzeiro.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Meu Brasil

Poema de Pedro de Alcântara em Parnaso de Além Túmulo.


O ÚLTIMO imperador deixou alguns sonetos, que, bem o sabemos, há quem diga não serem da sua lavra. Ignoramos por que Dom Pedro 2º, alma boníssima, vibrátil, e espírito culto, não pudesse fazer o que fizeram e fazem tantos outros patrícios nossos, a ponto de ser correntio o conceito de que todo brasileiro é poeta aos 20 anos. De qualquer forma, entretanto, o que se não poderá negar é a estreita afinidade destes sonetos com os que, de Dom Pedro, conhecemos.





Longe do meu Brasil, triste e saudoso,
Bastas vezes sentia, mal desperto,
Com o coração pulsando, estar já perto
Do pátrio lar risonho e bonançoso.

E deplorava o rumo escuro e incerto,
Do meu desterro amargo e desditoso,
Desalentado e fraco, sem repouso,
O coração em úlceras aberto.

Enviava, a chorar, na aura fagueira,
Minhas recordações em terna prece
Ao torrão que adorara a vida inteira;

Até que a acerba dor, enfim, pudesse
Arrebatar-me à vida verdadeira.
Onde a luz da verdade resplandece.

Brasil

Poema de Olavo Bilac e Parnaso de Além Túmulo.



Desde o Nilo famoso, aberto ao sol da graça,
Da virtude ateniense à grandeza espartana,
O anjo triste da paz chora e se desengana,
Em vão plantando o amor que o ódio despedaça,

Tribos, tronos, nações... tudo se esfuma e passa.

Mas o torvo dragão da guerra soberana
Ruge, fere, destrói e se alteia e se ufana,
Disputando o poder e denegrindo a raça.

Eis, porém, que o Senhor, na América nascente,
Acende nova luz em novo continente
Para a restauração do homem exausto e velho.

E aparece o Brasil que, valoroso, avança,
Encerrando consigo, em láureas de esperança,
O Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Vozes de Uma Sombra


De Augusto dos Anjos, publicado em Parnaso de Além Túmulo.


Donde venho? Das eras remotíssimas,
Das substâncias elementaríssimas,
Emergindo das cósmicas matérias.
Venho dos invisíveis protozoários,
Da confusão dos seres embrionários,
Das células primevas, das bactérias.

Venho da fonte eterna das origens,
No turbilhão de todas as vertigens,
Em mil transmutações, fundas e enormes;
Do silêncio da mônada invisível,
Do tetro e fundo abismo, negro e horrível,
Vitalizando corpos multiformes.

Sei que evolvi e sei que sou oriundo
Do trabalho telúrico do mundo,
Da Terra no vultoso e imenso abdômen;
Sofri, desde as intensas torpitudes
Das larvas microscópicas e rudes,
A infinita desgraça de ser homem.

Na Terra, apenas fui terrível presa,
Simbiose da dor e da tristeza,
Durante penosíssimos minutos;
A dor, essa tirânica incendiária,
Abatia-me a vida solitária
Como se eu fora bruto entre os mais brutos.

Depois, voltei desse laboratório,
Onde me revolvi como infusório,
Como animálculo medonho, obscuro,
Té atingir a evolução dos seres
Conscientes de todos os deveres,
Descortinando as luzes do futuro.

E vejo os meus incógnitos problemas
Iguais a horrendos e fatais dilemas,
Enigmas insolúveis e profundos;
Sombra egressa de lousa dura e fria,
Grito ao mundo o meu grito que se alia
A todos os anseios gemebundos: —

“Homem! por mais que gastes teus fosfatos
Não saberás, analisando os fatos,
Inda que desintegres energias,
A razão do completo e do incompleto,
Como é que em homem se transforma o feto
Entre os duzentos e setenta dias.

A flor da laranjeira, a asa do inseto,
Um estafermo e um Tales de Mileto,
Como existiram, não perceberás;
E nem compreenderás como se opera
A mutação do inverno em primavera,
E a transubstanciação da guerra em paz;

Como vivem o novo e o obsoleto,
O ângulo obtuso e o ângulo reto
Dentro das linhas da Geometria;
A luz de Miguel Angelo nas artes,
E o espírito profundo de Descartes
No eterno estudo da Filosofia.

Porque existem as crianças e os macróbios
Nas coletividades dos micróbios
Que fazem a vida enferma e a vida sã;
Os antigos remédios alopatas
E as modernas dosagens homeopatas,
Produto da experiência de Hahnemann.

A psíquico-análise freudiana
Tentando aprofundar a alma humana
Com a mais requintadíssima vaidade,
E as teorias do Espiritualismo
Enchendo os homens todos de otimismo,
Mostrando as luzes da imortalidade.

Como vive o canário junto ao corvo,
O céu iluminado, o inferno torvo
Nos absconsos refolhos da consciência;
O laconismo e a prolixidade,
A atividade e a inatividade,
A noite da ignorância e o sol da Ciência.

As epidermes e as aponevroses,
As grandes atonias e as nevroses,
As atrações e as grandes repulsões,
Que reunindo os átomos no solo
Tecem a evolução de pólo a pólo,
Em prodigiosas manifestações;

Como os degenerados blastodermas
Criam a descendência dos palermas
No lupanar das pobres meretrizes,
Junto dois palacetes higiênicos,
Onde entre gozos fúlgidos e edênicos
Cresce a alegre progênie dos felizes.

Os lombricóides mínimos, os vermes,
Em contraposição com os paquidermes,
Assombrosas antíteses no mundo;
É o gigante e o germe originário,
Os milhões de corpúsculos do ovário,
Onde há somente um óvulo fecundo.

A alma pura do Cristo e a de Tibério,
Vaso de carne podre, o cemitério,
E o jardim rescendendo de perfumes;
O doloroso e tetro cataclismo
Da beleza louçã do organismo,
Repleto de dejetos e de estrumes.

As coisas sustanciais e as coisas ocas,
As idéias conexas e as loucas,
A teoria cristã e Augusto Comte;
E o desconhecido e o devassado,
E o que é ilimitado e o limitado
Na óptica ilusória do horizonte.

Os terrenos povoados e o deserto,
Aquilo que está longe e o que está perto;
O que não tem sinal e o que tem marca;
A funda simpatia e a antipatia,
As atrofias e a hipertrofia,
Como as tuberculoses e a anasarca.

Os fenômenos todos geológicos,
Psíquicos, científicos, sociológicos,
Que inspiram pavor e inspiram medo,
Homem! por mais que a idéia tua gastes,
Na solução de todos os contrastes,
Não saberás o cósmico segredo.

E apesar da teoria mais abstrusa
Dessa ciência inicial, confusa,
A que se acolhem míseros ateus,
Caminharás lutando além da cova,
Para a Vida que eterna se renova,
Buscando as perfeições do Amor em Deus.”

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

No Horto

Poema de Olavo Bilac em Parnaso de Além Túmulo.



Tristemente, Jesus fitando os céus, em prece,
Vê descer da amplidão o Arcanjo da Agonia,
Cuja mão luminosa e terna lhe trazia
O cálix do amargor, duríssimo e refece.

— “Se puderdes, meu Pai, afastai-o!...” — dizia,
Mas eis que todo o Azul celígeno estremece;
E do céu se desprende uma doirada messe
De bênçãos aurorais, de Paz e de Alegria.

Paira em todo o recanto a vibração sonora
Do Amor e o Mestre já na sede que o devora,
De imolar-se por fim nas aras desse Amor,

Sente a Mão Paternal que o guia na amargura,
E sublime na fé mais vivida, murmura:
— “Que se cumpra no mundo o arbítrio do Senhor!...”

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Culto aos Mortos

Extraído do livro FLORAÇÕES EVANGÉLICAS escrito por DIVALDO PEREIRA FRANCO e ditado pelo espírito JOANNA DE ÂNGELIS.



Resultante da ignorância, o culto dos mortos entre os povos primitivos se espalhou pelas múltiplas Civilizações da antigüidade, gerando, em con­seqüência, lamentáveis processos de desregramento religioso, que derrapavam, quase sempre, em dolo­rosos conúbios obsessivos.
Entidades primárias e viciosas, utilizando-se das paixões vigentes, exigiam, selvagens, sacrifícios de vidas humanas, que o tempo se encarregou de su­primir... Os holocaustos desta e daquela natureza foram sofrendo variações por impositivos do pro­gresso até assumirem conceituação metafísica, transmudando a mecânica da forma para a essência do espírito sacrificial.
Concomitantemente, estabeleceu-se o intercâmbio entre os dois mundos: o dos encarnados e o dos desencarnadOS, que retornavam com as mesmas características da personalidade desenvolvida antes do túmulo, exteriorizando as emoções e as sensações compatíveis ao estado de evolução de cada um.
Nos santuários dos Templos, nas Escolas de iniciação, nos “Mistérios”, os mortos sempre assu­miram papel preponderante, traduzindo os desejos dos “deuses”, — “deuses” que se fariam crer, — conduzindo, não raro, e em consequência, o pensamento humano às nascentes da vida, e elucidando os enigmas do ser, as diretrizes dos destinos e os impositivos da dor...
Filósofos e heróis, conquistadores e reis, magos e sacerdotes do passado mantiveram, dessa forma, longo comércio com o Mundo Espiritual em inolvi­dáveis diálogos, dos quais ressumavam a essência da vida verdadeira, a imortalidade, a comunicabili­dade e a reencarnação do espírito...

* * *

Com Jesus, no entanto, os chamados mortos receberam o necessário respeito, ocupando o devido lugar. Seus encontros com os libertos da carne, mencionados no Evangelho, são memoráveis, incon­fundíveis. E a ética decorrente dêsse convívio, va­zada na elevação moral e na renúncia, no amor e na caridade constitui, ainda hoje, a linha de equi­líbrio e base de segurança para a vida.
Depois dEle, Allan Kardec, o Missionário fran­cês, de Líon, foi investido pelo Alto com a inapre­ciável condição de desvelar a vida além da sepul­tura, facultando o renascimento do Cristianismo nos espíritos e nos corações, e abrindo nobres en­sanchas para o intercâmbio com as Esferas Espiri­tuais.
Os próprios Imortais aquiesceram em elucidar os enigmas humanos com a divina permissão, am­pliando enormemente os horizontes do entendi­mento sobre a vida imperecível, após o decesso or­gânico.
Porque a Terra necessitasse de inadiável des­pertamento para as realidades do espírito, os Em­baixadores dos Céus mergulharam no corpo e re­nasceram nos diversos campos do pensamento e da investigação, colaborando com tirocínios lúcidos e comprovações indubitáveis da continuidade da vida após a morte.
Luminares do Reino mantiveram comunhão com os homens, através da mediunidade dignificada, re­petindo a mensagem do Cordeiro de Deus aos co­rações amargurados e contribuindo com farta cópia de revelações novas.
Não mais a morte. Em tõda a parte exulta a vida.
Ninguém se aniquila na morte. Muda-se de es­tado vibratório sem que se opere mudança intrínseca naquele que é considerado morto.
Morrer é, também, reviver.
Mortos estão, em realidade, aquêles que têm fechados os olhos para a vida e jazem anestesiados na ilusão, deambulando, em hipnose inditosa, entre viciações e engodos.
Cada ser é além do corpo o que cultivou na in­dumentária carnal. Nem melhor nem pior do que era. As construções mentais, longamente atendidas, não se apagam dos painéis espirituais ao toque má­gico da desencarnação, nem tampouco o culto da personalidade, os hábitos infelizes se rompem, de imediato, graças ao bisturi miraculoso da morte.
Morrer e viver nas vibrações materiais são contingências que dizem respeito a cada um.

* * *

Por essa razão, em memória dos teus mortos queridos, que vivem, não lhes açules as paixões subalternas com oferendas de ordem material, Já não necessitam dos mimos enganadores nem das de­monstrações exteriores do mundo da forma. Têm agora outro conceito, compreendem melhor o que foram, como poderiam e deveriam ter sido, e lamentam, se não souberam conduzir a experiência pelas nobres linhas da elevação moral.
Respeita-lhes a memória, mas desvincula-os das coisas transitórias.
Ama-os, e liberta-os das evocações dolorosas do vaso carnal.
Ajuda, através da tua valiosa dádiva de amor, os que se demoram ao teu lado experimentando aflições e desesperos.
Transforma as flôres débeis que logo fenecem em pães de esperança, que sustentarão vidas em quase extinção.
Apaga os círios de parca luminescência e acende a luz da caridade, pensando nêles, para que as lâmpadas de misericórdia que coloques em outras vidas possam transformar-se em claridade sublime nas consciências dêles.
Mitiga a sêde, diminui a fome, alfabetiza, enseja o medicamento, fomenta a concórdia, distribui a esperança, divulga a paz, recordando aquêles a quem amas e que partiram para o mais além, e chuvas de bênçãos cairão sôbre êles, abençoando-te também.
Não os pranteies em desesperos, não os exaltes em qualidades que não possuem.
Recorda-os na saudade e mantém-nos na lem­brança do carinho, sabendo por antecipação que um dia virá em que jornadearás, também, na dire­ção dêsse Mundo em que êles se encontram, voltan­do a estar ao lado dêles, sendo feliz outra vez. E como dispões ainda de tempo para preparar a sua viagem de retôrno à Pátria Espiritual, organizais emocionalmente, entregando tua vida à Providên­cia Divina e vivendo de tal forma no corpo que, em chegando o momento da desencarnação, não te detenhas atado às mazelas nem às constrições do vasilhame carnal.

*

“Se alguém guardar a minha palavra, nunca, jamais, provará a morte”.
João: capítulo 8º versículo 52.
  
“O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira, é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde”.
                                                                 Capítulo 23º — Item 8, parágrafo 2.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Espiritismo e Mediunidade

Extraído do livro "Estudando a Mediunidade" de Martins Peralva.



       Que devemos buscar na Mediunidade?
       Como devemos considerar os Médiuns?
       Que nos podem oferecer o Espiritismo e o Mediu­nismo?
       Essas três singelas perguntas constituem o esboço do presente capítulo.
       Em que pese ao extraordinário progresso do Espi­ritismo, neste seu primeiro século de existência codificada, qualquer observador notará que os seus variegados ângulos ainda não foram integralmente apreendidos, in­clusive por companheiros a ele já filiados.
       Muitas criaturas, almas generosas e simples, ainda não sabem o que devem e podem buscar na mediunidade.
       Outras, guardam um conceito errôneo e perigoso, com relação aos médiuns, situando-os, indevidamente, na posição de santos ou iluminados.
       Em resumo, ainda não sabemos, evidentemente, o que o Espiritismo e a prática mediúnica nos podem ofe­recer.
       Há quem deseje, irrefletidamente, buscar nos serviços de intercâmbio entre os dois planos a satisfação de seus interesses imediatistas, relacionados com a vida terrena, como existem os que, endeusando os médiuns, ameaçam-lhes a estabilidade espiritual, com sérios riscos para o Homem e para a Causa.
       O Espiritismo não responde por isso.
       Nem os Espíritos Superiores.
       Nem os Espíritos mais esclarecidos.
       Allan Kardec foi, no dizer de Flammarion, “o bom senso encarnado”, O Espiritismo, cuja codificação no plano físico coube ao sábio francês, teria de ser, tam­bém, a Doutrina do bom-senso e da lógica, do equilíbrio e da sensatez.
       Ele permanecerá como imponente marco de luz, por muitos séculos, aclarando o entendimento de quantos lhe busquem por manancial de esclarecimento e consolação.
       Ao invés de cogitar apenas dos problemas materiais, para cuja solução existem, no mundo, numerosas insti­tuições especializadas, cogita o Espiritismo de fixar o roteiro do nosso reajustamento para a Vida Superior.
       Reajustamento assim especificado:
       a) - Moral
       b)— Espiritual
       c) — Intelectual
       E na definição de André Luiz, “revelação divina para renovação fundamental dos homens”.
       Quem se alista nas fileiras do Espiritismo é compe­lido, naturalmente, a iniciar o processo de sua própria transformação moral.
       Não quer mais ser violento ou grosseiro, maledi­cente ou ingrato, leviano ou infiel.
       Deseja, embora tateante, em vista das solicitações inferiores que decorrem, inevitavelmente, do nosso apri­sionamento às formas primitivistas evolucionais, subir, devagarinho, os penosos degraus do aperfeiçoamento es­piritual, integrando-se, para isso, no trabalho em favor de si mesmo e dos outros.
       O Espírita esclarecido considerará o médium como1 um companheiro comum, portador das mesmas responsa­bilidades e fraquezas que igualmente nos afligem.
       Alma humana, falível e pecadora, necessitada de compreensão.
       Não o tomará por adivinho, oráculo ou revelador de notícias inadequadas.
       Assim sendo, ajudá-lo-á no desempenho dos seus deveres, evitando o elogio que inutiliza as mais belas florações mediúnicas, para estimulá-lo e ampará-lo com a palavra amiga e sincera.
       Todo Espírita ganharia muito se lesse, meditando, o capítulo História de um Médium, do livro “Novas Mensagens”, do Espírito de Humberto de Campos.
       Como descansariam os médiuns do assédio impie­doso que lhes movem alguns companheiros, deixando-os, assim, livres e desimpedidos para a realização de suas nobres tarefas?
       O Espiritista sincero irá compreendendo, pouco a pouco, que o Espiritismo e o Mediunismo lhe podem ofe­recer ensejo para o sublime “reencontro com o pensa­mento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para mais amplo discernimento da verdade”.
       E, através dessa compreensão, saberá reverenciar “o Espiritismo e a Mediunidade como dois altares vivos no templo da fé, através dos quais contemplaremos, de mais alto, a esfera das cogitações propriamente terres­tres, compreendendo, por fim, que a glória reservada ao espírito humano é sublime e infinita, no Reino Divino do Universo”.
       Com esta superior noção das finalidades da Dou­trina Espírita, não mais se farão ouvir, proferidas por companheiros nossos, as três perguntas com que abrimos o presente capítulo:
       Que devemos buscar na mediunidade?
       Como devemos considerar os médiuns?
       Que nos podem oferecer o Espiritismo e o Mediunismo?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Oração

Poema de João de Deus em Parnaso de Além Túmulo.


NASCIDO em São Bartolomeu de Messines, Portu­gal, em 1830, e desencarnado em 1896, afir­mou-se um dos maiores líricos da língua por­tuguesa. É tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita, de modo in­confundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.



Vós que sois a mãe bondosa
De todos os desvalidos
Deste vale de gemidos.
Mãe piedosa!...

Sublime estrela que brilha
No céu da paz, da bonança,
Do céu de toda a esperança —
Maravilha!

Maria! — consolação
Dos pobres, dos desgraçados,
Dos corações desolados
Na aflição,

Compadecei-vos, Senhora,
De tão grandes sofrimentos,
Deste mundo de tormentos,
Que apavora.

Livrai-nos do abismo tredo