Resultante
da ignorância, o culto dos mortos entre os povos primitivos se espalhou pelas
múltiplas Civilizações da antigüidade, gerando, em conseqüência, lamentáveis
processos de desregramento religioso, que derrapavam, quase sempre, em dolorosos
conúbios obsessivos.
Entidades
primárias e viciosas, utilizando-se das paixões vigentes, exigiam, selvagens,
sacrifícios de vidas humanas, que o tempo se encarregou de suprimir... Os
holocaustos desta e daquela natureza foram sofrendo variações por impositivos
do progresso até assumirem conceituação metafísica, transmudando a mecânica da
forma para a essência do espírito sacrificial.
Concomitantemente,
estabeleceu-se o intercâmbio entre os dois mundos: o dos encarnados e o dos
desencarnadOS, que retornavam com as mesmas características da personalidade
desenvolvida antes do túmulo, exteriorizando as emoções e as sensações
compatíveis ao estado de evolução de cada um.
Nos
santuários dos Templos, nas Escolas de iniciação, nos “Mistérios”, os mortos
sempre assumiram papel preponderante, traduzindo os desejos dos “deuses”, —
“deuses” que se fariam crer, — conduzindo, não raro, e em consequência, o
pensamento humano às nascentes da vida, e elucidando os enigmas do ser, as
diretrizes dos destinos e os impositivos da dor...
Filósofos
e heróis, conquistadores e reis, magos e sacerdotes do passado mantiveram,
dessa forma, longo comércio com o Mundo Espiritual em inolvidáveis diálogos,
dos quais ressumavam a essência da vida verdadeira, a imortalidade, a
comunicabilidade e a reencarnação do espírito...
* * *
Com
Jesus, no entanto, os chamados mortos receberam
o necessário respeito, ocupando o devido lugar. Seus encontros com os libertos
da carne, mencionados no Evangelho, são memoráveis, inconfundíveis. E a ética
decorrente dêsse convívio, vazada na elevação moral e na renúncia, no amor e na
caridade constitui, ainda hoje, a linha de equilíbrio e base de segurança para
a vida.
Depois
dEle, Allan Kardec, o Missionário francês, de Líon, foi investido pelo Alto
com a inapreciável condição de desvelar a vida além da sepultura, facultando
o renascimento do Cristianismo nos espíritos e nos corações, e abrindo nobres
ensanchas para o intercâmbio com as Esferas Espirituais.
Os próprios Imortais aquiesceram em
elucidar os enigmas humanos com a divina permissão, ampliando enormemente os
horizontes do entendimento sobre a vida imperecível, após o decesso orgânico.
Porque a Terra necessitasse de
inadiável despertamento para as realidades do espírito, os Embaixadores dos
Céus mergulharam no corpo e renasceram nos diversos campos do pensamento e da
investigação, colaborando com tirocínios lúcidos e comprovações indubitáveis da
continuidade da vida após a morte.
Luminares
do Reino mantiveram comunhão com os homens, através da mediunidade dignificada,
repetindo a mensagem do Cordeiro de Deus aos corações amargurados e
contribuindo com farta cópia de revelações novas.
Não mais
a morte. Em tõda a parte exulta a vida.
Ninguém
se aniquila na morte. Muda-se de estado vibratório sem que se opere mudança
intrínseca naquele que é considerado morto.
Morrer é,
também, reviver.
Mortos
estão, em realidade, aquêles que têm fechados os olhos para a vida e jazem
anestesiados na ilusão, deambulando, em hipnose inditosa, entre viciações e
engodos.
Cada ser
é além do corpo o que cultivou na indumentária carnal. Nem melhor nem pior do
que era. As construções mentais, longamente atendidas, não se apagam dos
painéis espirituais ao toque mágico da desencarnação, nem tampouco o culto da
personalidade, os hábitos infelizes se rompem, de imediato, graças ao bisturi
miraculoso da morte.
Morrer e
viver nas vibrações materiais são contingências que dizem respeito a cada um.
* * *
Por essa
razão, em memória dos teus mortos queridos,
que vivem, não lhes açules as paixões subalternas com oferendas de ordem
material, Já não necessitam dos mimos enganadores nem das demonstrações
exteriores do mundo da forma. Têm agora outro conceito, compreendem melhor o
que foram, como poderiam e deveriam ter sido, e lamentam, se não souberam
conduzir a experiência pelas nobres linhas da elevação moral.
Respeita-lhes
a memória, mas desvincula-os das coisas transitórias.
Ama-os, e
liberta-os das evocações dolorosas do vaso carnal.
Ajuda,
através da tua valiosa dádiva de amor, os que se demoram ao teu lado
experimentando aflições e desesperos.
Transforma
as flôres débeis que logo fenecem em pães de esperança, que sustentarão vidas
em quase extinção.
Apaga os
círios de parca luminescência e acende a luz da caridade, pensando nêles, para
que as lâmpadas de misericórdia que coloques em outras vidas possam
transformar-se em claridade sublime nas consciências dêles.
Mitiga a
sêde, diminui a fome, alfabetiza, enseja o medicamento, fomenta a concórdia,
distribui a esperança, divulga a paz, recordando aquêles a quem amas e que
partiram para o mais além, e chuvas de bênçãos cairão sôbre êles, abençoando-te
também.
Não os
pranteies em desesperos, não os exaltes em qualidades que não possuem.
Recorda-os
na saudade e mantém-nos na lembrança do carinho, sabendo por antecipação que
um dia virá em que jornadearás, também, na direção dêsse Mundo em que êles se
encontram, voltando a estar ao lado dêles, sendo feliz outra vez. E como
dispões ainda de tempo para preparar a sua viagem de retôrno à Pátria
Espiritual, organizais emocionalmente, entregando tua vida à Providência
Divina e vivendo de tal forma no corpo que, em chegando o momento da
desencarnação, não te detenhas atado às mazelas nem às constrições do vasilhame
carnal.
*
“Se alguém guardar a minha palavra, nunca, jamais, provará a morte”.
João: capítulo 8º versículo 52.
“O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira,
é, pela lembrança, o Espírito
ausente quem o infunde”.
Capítulo
23º — Item 8, parágrafo 2.
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